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A campanhia tocou e ele estranhou a hora, mas foi atender. Sua namorada deveria chegar mais tarde do plantão, e também tinha dito que estava muito cansada. Por alguns segundos ficou feliz por achar que a amada tinha mudado de ideia. Mas não desta vez.
- Akire?
Sim, sua ex da época da escola estava ali na sua frente. Eles não se viam há dez anos, desde que ela voltou para sua cidade natal sem ao menos se despedir.
- O que você está fazendo aqui? Como você sabe onde eu moro?
- Desculpa aparecer assim... Posso entrar?
Ele abriu a porta e estendeu o braço, dando o sinal de que ela poderia entrar.
- O Jack falou que você morava aqui e eu estou no apê no dele, no fim da rua. Precisava falar com você.
- Precisa falar comigo? Por quê?
- Henrique, tem dez anos que a gente não se vê. Eu sei que você não vai no reencontro amanhã. Não tinha outro jeito.
- Não, a pergunta é porquê você precisa falar comigo.
- É a terceira vez que venho na cidade e você não quer encontrar a gente. Ou eu né.
Akire se senta no sofá e enquanto isso Henrique pega uma cadeira da mesa de jantar e se senta a sua frente.
- Eu não quero isso entre a gente, funcionamos bem como amigos. Você sabe disso.
- Akire, fomos amigos durante um ano. Me apaixonei, ficamos juntos e você terminou comigo. Não faço questão dessa amizade.
- Nossa, essa doeu.
- Você não quer conversar? Então...
- Desculpa ter despedaçado seu coração. Eu não nasci para isso.
- Você devia ter percebido isso antes de ficar comigo.
- Eu sei... Mas poxa, ficamos menos tempo juntos do que amigos.
- É... Mas fiquei mais tempo do que devia apaixonado por você. Não podia ser amigo de alguém que não me correspondia.
- E agora já pode né?
Ele riu ironicamente, não acreditava que ela estava perguntando isso novamente.
- Sério? Eu amo minha namorada, estou muito feliz com ela. A Lari é a pessoa certa.
- Eu fico por saber disso. De verdade! Eu quero muito que você seja feliz.
- É, um dia eu achei que você era a certa. Fui tão idiota.
Os dois ficaram mudos por um tempo e riram. Havia ali uma cumplicidade de amigos que confundiram os sentimentos por um tempo.
O celular dele começou a vibrar e rapidamente atendeu.
- Oi amor! Sim, estou em casa. Não, a Akire está aqui. Sim, ela mesma. (Eles riram) Claro, vou ficar te esperando acordado. Te amo.
- Preciso ir embora?
- É bom.
- Olha, pensa sobre amanhã. Vai ser legal encontrar o pessoal. Tem dez anos que não nos vemos.
- Eu não gosto dessas coisas, você sabe. Talvez a Lari me convença.
- Tudo bem... A gente se esbarra por aí. Tchau.
Ela foi abraçar ele, mas ele rapidamente estendeu a mão, não queria muito contato físico.
- Tchau.
- Valeu por não bater a porta na minha cara.
Ele acenou com a cabeça. Ela caminhou para fora do apartamento. Apesar do tempo, ainda respeito e cumplicidade entre Akire e Henrique.
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