- Sim, fui eu.
Sinto-me muitas vezes arrependido de ter dito essa frase e feito o que fiz, mas naquele momento diria milhares de vezes se fosse preciso, faria tudo por ela.
Meu sobrinho Rafael me apresentou Akire dois anos antes de eu salvar a pele dela, a conheci no dia do meu casamento. Mas depois de dois anos matrimoniais muito mal vividos, eu e minha ex decidimos nos divorciar e como não tinha onde morar, tive que passar um tempo na casa da minha irmã mais velha Tânia. Era tranquilo, ela era como uma segunda mãe para mim por causa da diferença de idade, e meu sobrinho Rafael era como um irmão mais novo. Akire era a melhor amiga dele, estava o tempo todo lá, e sempre escutava ela comentar que preferia homens mais velhos; eu tinha vinte e oito anos, ela dezesseis. Achava interessante ela falar isso, mas nunca a via como uma mulher, e sim uma criança que estava no meu casamento como amiguinha do meu sobrinho. Em uma das vezes que ela e o Rafa ficaram conversando até tarde, ofereci-me para levá-la em casa de carro, não estava fazendo nada mesmo.
Entramos no carro e liguei o rádio, não tínhamos sobre o que conversar. No caminho começou a tocar a música da minha banda favorita. Ela perguntou se podia aumentar. Olhei para ela surpreso e disse que sim. Ela me indicava o caminho a seguir enquanto cantava a música toda. Quando chegamos no prédio dela, Akire me olhou diferente. Eu finalmente olhei de verdade para ela. De repente estávamos nos pegando no meu carro, numa rua deserta no meu da noite. Quando ela desceu a mão eu me contive e disse que era melhor ela ir para casa.
Quase todo dia ela estava lá com o Rafa quando eu chegava do trabalho. Eu tentava ficar longe dela, mas ela entrava no meu quarto fingindo que tinha ido ao banheiro, entrava no banheiro quando eu ia tomar banho e até inventava uma desculpa para ir embora quando eu ia para a academia ou para ficar escondida na escada esperando eu chegar. Akire era louca, mas ela me deixava louco também. Não conversávamos nunca, apenas matávamos nossa vontade. Tive que procurar qualquer lugar para morar, não queria correr o risco de ser tachado de pedófilo, sair daquele lugar era a melhor opção para me afastar dela. Mas antes disso acontecer, um dia estava em casa sozinho porque minha irmã e meu sobrinho tinham viajado e a campainha tocou. Quando a vi pelo olho mágico, pensei em não abrir a porta. Mas Akire estava chorando, tive que abrir.
- O que aconteceu?
- Meu padrasto.
Ela me abraçou forte, como se precisasse de proteção, tremia.
- O que ele fez?
- Ele tentou... Tentou transar comigo, foi nojento. Mas consegui me soltar e saí correndo. Só podia vir para cá.
Eu simplesmente não tive reação. Como poderia imaginar que a mesma garota que eu ficava estava passando por isso em casa? Ela me abraçava e chorava.
- Faz isso parar, por favor!
- Como Akire? Me diz, eu faço qualquer coisa por você.
- Me leva em casa, sobe comigo, me proteja.
- Dorme aqui hoje, amanhã te levo.
- Ta bom.
Ela estava dormindo no quarto do Rafa, mas no meio da noite foi para a minha cama, abraçou-me e dormimos assim.
O dia seguinte o segundo pior da minha vida. Fui com ela até sua casa, entramos e ela começou a fazer uma mala, cismou que tinha que fugir e ir embora. Quando o padrasto apareceu e segurou o braço dela forte, eu não me controlei, tudo sumiu e quando percebi estava na frente de um policial. Eu espanquei um homem por ela. O que estava acontecendo? Como Akire contou que ele tinha abusado e segurado o braço dela, entenderam que foi legítima defesa. Mas a imagem daquele homem ensanguentado era difícil apagar da minha cabeça, eu tinha feito aquilo.
- Sim, fui eu.
Durante os anos seguintes ficamos bem próximos, conversávamos, ficávamos, tudo escondido. Eu ainda era tio do melhor amigo dela, mas agora morava no meu próprio apartamento, uma cobertura simples com piscina. Eu comprava bebida e cigarro para ela e seus amigos quando ainda eram menores de idade, estudava matérias de exatas com ela, a levava aos lugares de carro e muitas vezes nos comportávamos como um casal quando estávamos em algum lugar sozinhos ou longe de casa. Aquela aproximação fez com que ela se tornasse minha droga diária e ela atiçava meu vício. Não transávamos, ela dizia que queria esperar até os 18 anos, mas mesmo depois disso dizia que ainda não estava preparada. Achava ter sorte de encontrar alguém tão especial como ela. Uma vez disse que não podia mais continuar escondendo aquilo, ela disse que me amava e tudo continuou como antes. Já tinha três anos... Voltando do trabalho um dia a vi caminhando alegremente de mãos dadas com um qualquer. Nunca fazíamos isso, ela não deixava. Enquanto conversava com o Rafa ele comentou que Akire estava mais ausento desde que começou a namorar. Segurei minha raiva, minha tristeza e decepção.
Eu tinha quase matado um homem por causa dela. Mentia para minha família e amigos por causa dela. Gastava tudo o que podia com ela. Era feito de motorista por ela. Não transava há séculos esperando por ela. Amava ela! Preferi não confrontar, apenas segui a vida.
Ela apareceu na minha porta. Abri e ela me beijou. Só naquele beijo quis esquecer tudo e recomeçar com ela. Naquele dia ela estava diferente, romântica, feliz, determinada. Fizemos amor pela primeira, tive certeza de que ela me amava também. Mas quando ela foi embora, eu a segui após deixá-la em casa. Esperei lá fora, sabia que ela ia descer. Desceu, o tal namorado apareceu, ela não me amava.
Eu queria me vingar, mas não poderia viver sabendo que no mundo ela não estaria mais. Planejei tudo e no dia certo a convidei para jantar. Enquanto preparava o jantar, ela ficava sentada na bancada tomando vinho e me observando. Afastei tudo que estava em cima da bancada e comecei a beijá-la. Akire entrelaçou as pernas na minha cintura e começou a tirar minha blusa, segurei ela no colo e levei-a para o quarto, fizemos amor pela última vez. Enquanto nos encaixávamos perfeitamente, eu coloquei a mão debaixo do travesseiro, peguei uma faca, segurei com força e cravei no seu peito. Em meio ao orgasmo, ela deu gritou e deu um suspiro. - Fabrício, por quê?
- Porque te proteger foi um erro, você nunca me amou, só me usou. Eu só queria que você me amasse, que me assumisse, que me deixasse fazê-la feliz.
Depois de tanto segurá-la em meus braços tomei coragem e fechei os olhos como ela.
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